domingo, 25 de abril de 2010

Educação para a saúde e a cidadania

EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE E A CIDADANIA


Autoras: ASSUNÇÃO, TEREZA CRISTINA REIS
Carmen Célia de Araújo
Emília Alves de Sousa
Aldair Alessandra de Sousa

Local: Hospital Infantil Lucídio Portella
Endereço: Rua Gov. Artur de Vasconcelos, 220 centro/sul Teresina-Pi
Fone para contato: (86) 3222-0456



INTRODUÇÃO

Segundo a carta de Ottava (1986), a promoção de saúde é o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo.

Na declaração de Jacarta (1997), a saúde é considerada como um direito humano fundamental e essencial para o desenvolvimento social e econômico e, para isso estimula a participação por meio da educação e informação para a garantia da promoção da saúde.

Dessa forma, a educação e a promoção da saúde estão fortemente interligadas, uma vez que a saúde é influenciada pela qualidade de informação das pessoas. Uma não existe sem a outra. E segundo Gauderer (1993), quanto mais e mais bem informado o indivíduo, mais valorizado será, pois pode tomar decisões mais adequadas, podendo ser escolhidas para o exercício do poder. A informação é, portanto, a base da autonomia, da independência do conhecimento e da cultura.

É dentro desse contexto que se insere a ação Educação para a Saúde e Cidadania que vem sendo implementada no Hospital Infantil Lucídio Portella. Essa iniciativa surgiu a partir da percepção de que os usuários dos serviços de saúde em sua maioria são procedentes das zonas periféricas de Teresina, de outros municípios do interior do estado e de estados circunvizinhos e possuem baixo poder aquisitivo.

Esses usuários de acordo com as entrevistas sociais realizadas, em sua maioria, não chegam ao ensino médio, prevalecendo o ensino fundamental incompleto. São de baixo nível sócio-econômico, não tendo inserção no mercado de trabalho formal e sem garantia, portanto, dos direitos trabalhistas. A renda familiar por vezes não é definida e alguns sobrevivem com complementação de renda a partir de benefícios sociais do Governo Federal, como o da Bolsa Família. As condições habitacionais são precárias, muitas vezes, sem acesso a infra-estrutura sanitária e de saneamento básico.

As ações de educação em saúde integra um conjunto de iniciativas que vem sendo trabalhadas, desde 2002 no HILP, oportunidade em que esta unidade de saúde passou a incorporar os princípios da humanização nos cuidados profissionais, a partir da criação do seu Grupo de Trabalho de Humanização, na busca de um atendimento mais eficaz e humano.

Com a implantação da Política Nacional de Humanização em 2004, que defende a valorização dos diferentes sujeitos envolvidos nas ações de produção de saúde, a partir da construção da autonomia e do protagonismo desses sujeitos, outras ações foram disparadas neste processo, em que se destaca a Rede no Berço: Acolhendo as Diferenças Culturais, a Alta Humanizada, a Gestão Compartilhada: Valorizando os Trabalhadores de Saúde e mais recentemente, a Ouvidoria, potencializando assim, a humanização dos processos de trabalho no hospital.

Dentro deste cenário, o hospital tem assumido cada vez mais o compromisso com a humanização da atenção e gestão em curso, buscando melhorar a qualidade dos serviços. Prestados.

As ações de educação em saúde têm como objetivos, trabalhar informações sobre o processo saúde/doença, cidadania, políticas públicas e as formas de acesso. Outra prioridade assumida é estimular os usuários para o reconhecimento das suas necessidades de saúde e poder expressá-las nas rodas de discussões.

Também, procura-se trabalhar informações sobre os direitos para que esses sujeitos conquistem a auto-estima e a autonomia necessária para melhoria da qualidade de vida, bem como, fomentar a busca de alternativas para solução de problemas e transformação da vida cotidiana.



METODOLOGIA

As atividades vêm sendo implementadas através de rodas de discussões sobre temáticas variadas, com a participação dos pais/acompanhantes das crianças em tratamento, semanalmente, por uma equipe multiprofissional constituída por profissionais das diversas áreas do saber, tanto do hospital, como também, de outros espaços institucionais do contexto da saúde, justiça, direitos humanos, assistência social, educação, controle social, dentre outros.

No tocante aos direitos, um dos focos das discussões provocadas têm sido a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, na perspectiva dos pais/acompanhantes conhecerem os seus direitos e deveres enquanto usuários do SUS, tendo em vista participarem mais ativamente do processo do cuidado e da recuperação do paciente, fortalecendo assim, o compromisso de co-responsabilidade e controle social nas ações de saúde.

Os temas trabalhados são escolhidos através de uma escuta prévia com os usuários numa oficina realizada no início de cada ano. Outros são sugeridos pela própria equipe multidisciplinar.

Nesses encontros, os participantes são convidados para expressarem suas idéias e experiências sobre as questões debatidas, tendo em vista estimular o diálogo e o protagonismo desses sujeitos. Por algumas vezes, têm sido convidados pais de crianças portadoras de patologias crônicas com longo período de internação no Hospital, para prestarem depoimentos sobre as experiências vividas em relação ao tratamento e convivência hospitalar, como forma de ajudar aqueles que estão passando por situações semelhantes e que possuem dificuldades de aceitação dessa realidade. Isto tem contribuído para a melhor aceitação da internação do filho por esses pais.

Os encontros são finalizados com uma avaliação oral, para conhecimento dos sentimentos dos participantes acerca das atividades desenvolvidas e levantamento de demandas e sugestões para aperfeiçoamento das ações.

Cada encontro realizado é feito uma síntese das ações desenvolvidas por cada profissional, com o intuito de construir um banco de dados, facilitarem a avaliação das ações e colaborar no planejamento das intervenções futuras.


RESULTADOS

A iniciativa Educação para a Saúde e Cidadania, tem proporcionado aos pais/acompanhantes um maior conhecimento sobre o processo saúde/doença, sobre os direitos e deveres, enquanto usuários do sistema SUS, fortalecendo a capacidade de autonomia desses sujeitos, possibilitando a construção de críticas, propostas sobre as ações profissionais, ambiência hospitalar, provocando mudanças positivas nos espaços do hospital.

O conhecimento sobre os direitos dos usuários tem possibilitado os pais/acompanhantes a ampliarem o diálogo com os profissionais, na busca de informações sobre os procedimentos terapêuticos, para um melhor entendimento e participação nos cuidados do paciente, aumentando assim, o grau de co-responsabilidade entre esses atores.

Outro avanço neste sentido, tem sido o acesso ao conteúdo do prontuário do paciente por parte desses pais/acompanhantes, uma prática que já virou rotina nas enfermarias do hospital, oportunidade em que tomam conhecimento das evoluções diárias do paciente, dos exames laboratoriais realizados e tiram suas dúvidas sobre esses procedimentos interventivos.

Os temas trabalhados têm contribuído ainda, para a mudança de hábitos e atitudes dos usuários/famílias de crianças internadas, rompendo com entendimentos equivocados sobre alimentação, higiene, cuidados com a criança, proporcionando uma melhor convivência no âmbito hospitalar, facilitando as práticas profissionais e o tratamento.

Outro aspecto relevante neste processo tem sido a percepção de uma maior aceitação da doença da criança, por par parte de alguns pais/acompanhantes, a partir da compartilhamento das experiências vividas pelos que já estão há mais tempo com os filhos em tratamento no hospital, o que pode ser comprovado a partir dos depoimentos apresentados por alguns dos participantes:
“Estes encontros estão me dando a oportunidade de trocar experiências e assim entender melhor a doença do meu filho”.
“Estas atividades são importantes porque trazem informações que não conhecia e são importantes pra melhorar a vida da gente”.
“As reuniões são importantes porque ajudam a reforçar o conhecimento que a gente tem sobre doenças, vacinas e como se proteger das doenças”.

Vale ressaltar, que no período de 2008 e 2009, as ações implementadas envolveram a participação de 556 pais/acompanhantes e 26 profissionais das diversas áreas do saber e conhecimentos específicos.

Ressalta-se também que esta iniciativa foi inscrita e apresentada no II Seminário Nacional de Humanização, realizado em agosto de 2009, no Distrito Federal, tendo sido uma das mais votadas e recebido uma menção honrosa.


CONCLUSÃO

As ações de Educação em saúde fazem parte do modelo assistencial de promoção em saúde, ações que levam ao ato ou efeito de promover a saúde. A promoção em saúde é fruto de uma série de conquistas advindas com o movimento da reforma sanitária que culminou com os avanços constitucionais de 1988 e o conceito ampliado de saúde que ultrapassou o antigo conceito de ausência de doença, indo além da assistência médica, envolvendo todo o bem-estar do cidadão, tais como o acesso à educação, moradia, transporte, alimentação, saneamento, dentre outros.

Assim, as ações de educação em saúde, contribuem para a prevenção de doenças, com impacto na qualidade de vida dos usuários que participam das palestras, rodas de conversa, ou oficinas educativas. Assim, podemos afirmar que o conhecimento é produtor de mudanças na qualidade de vida dos sujeitos atendidos.

Como dificuldades deste processo, vale ressaltar a pouca disponibilidade de alguns profissionais das equipes de trabalho, sobretudo os médicos, no cumprimento do cronograma de execução das rodas e palestras planejadas. Às vezes, são feitas substituições desses profissionais para realizações das atividades, em decorrência da realidade apontada. Outra dificuldade constatada diz respeito à distância do auditório das enfermarias, o que dificulta o deslocamento dos pais/acompanhantes para os eventos. Com isso, os encontros quase sempre, são realizados no espaço de espera do ambulatório, que é aberto, inviabilizando o uso de data show.

Outra dificuldade, é conseguir a participação dos acompanhantes das crianças internadas na UTI e na enfermaria neonatal, devido a preocupação desses pais em se afastarem do leito dos filhos.

Como desafio, pretende-se ampliar a equipe multidisciplinar, envolvendo um maior numero de profissionais, sobretudo os médicos, tendo em vista contemplar informações consideradas fundamentais para o exercício da cidadania, autonomia e qualidade de vida.